
100.º Aniversário
Joly Braga Santos
Orquestra de Sopros, Orquestra de Cordas e Orquestra Sinfónica do Conservatório de Música do Porto
Fernando Marinho - Direção
14 maio 2024 | 21h30
Auditório do Conservatório de Música do Porto
Entrada livre limitada à lotação do Auditório
Programa
Biografia de Joly Braga Santos
(autor: Fernando Marinho)
José Manuel Joly Braga Santos, Joly Braga Santos, ou simplesmente Joly, nasce a 14 de maio de 1924, na Rua Pinheiro Chagas, em Lisboa. Desde cedo, o seu pai percebeu a vocação musical do pequeno José Manuel, estimulando-o no gosto pela música, levando-o a concertos e dando-lhe, ele próprio, lições de violino. Em outubro de 1936 Joly começa a frequentar o Conservatório Nacional, sendo aluno de Flaviano Rodrigues (violino). O seu percurso no Conservatório Nacional foi atribulado porque desde sempre se interessou pela composição e o Curso Geral tinha outras disciplinas, entre as quais o violino, que eram para ele um suplício. Inicia-se no estudo da composição com Venceslau Pinto, tendo prosseguido os estudos com Artur Santos. Estudou piano com Virgínia Vitorino e foi aluno de história da música e acústica de Luís de Freitas Branco, cujas disciplinas terminou em 1940. João, filho de Luís de Freitas Branco, foi colega de Joly, e terá falado ao pai do seu talento. É a partir desta altura que inicia aulas com Luís de Freitas Branco, que viria a ser o seu grande mestre. Quando Luís de Freitas Branco foi expulso do Conservatório Nacional pelo diretor Manuel Ivo Cruz, Braga Santos, ao testemunhar a favor do seu mestre, acabaria por sofrer a mesma sorte.
Terminado o seu incompleto percurso académico no CN, Luís de Freitas Branco começou a orientar, quase diariamente, o seu discípulo. Essa orientação desenvolveu-se não só a nível musical, mas também ao nível da educação cultural e literária, tendo-lhe emprestado imensos livros e orientado as suas leituras. Joly acompanhava-o também nos períodos passados no Monte dos Perdigões, em Reguengos de Monsaraz, onde terá criado a admiração pelo Alentejo. Luís de Freitas Branco estendeu também a sua generosidade à parte financeira, encaminhando-lhe alguns alunos, como João Paes, José Atalaya e António Victorino d’Almeida.
Entretanto escreve as suas primeiras obras, que foram Nocturno para Violino e Piano (1942), estreada por Silva Pereira (violino) e João de Freitas Branco (piano), que seria o Opus 1 do seu catálogo e Cinco Canções sobre Poemas de Fernando Pessoa (1942/43). Seguem-se a Ária I para violoncelo e piano (1943), o primeiro Quarteto de Cordas (1945) entre várias obras de canto e piano (dedicadas principalmente à mezzo-soprano Carmélia Âmbar, por quem teve uma paixão). A primeira obra orquestral seria a Abertura Sinfónica n.º 1 (1945), que seria estreada em 1946 pela Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional (OSEN), sob a direção de Pedro de Freitas Branco. A 1.ª Sinfonia (1946) é estreada em 1947, com 22 anos, tendo completado as suas primeiras quatro sinfonias até 1950, com apenas 26 anos, recheadas de um equilíbrio formal herdado de seu mestre Luís de Freitas Branco. A sua 4.ª Sinfonia foi dedicada à Juventude Musical Portuguesa, da qual Joly Braga Santos foi membro fundador. Todas as obras da sua produção composicional são dedicadas, maioritariamente a intérpretes com os quais estabelecia relações de amizade e que eram encorajamentos indispensáveis ao seu processo criativo. O Concerto para Viola dedicado a François Broos, violetista belga da OSEN e professor do CN, e o Concerto para Piano (1973), escrito para Sérgio Varella Cid, são dois desses exemplos.
Em 1948 foi convidado a ingressar como colaborador fixo no Gabinete de Estudos Musicais da Emissora Nacional, permitindo-lhe ter um ordenado mensal para compor, mantendo esse lugar até à extinção do gabinete, em 1954. Essa ligação profissional permitia-lhe assistir a quase todos os ensaios da Orquestra Sinfónica da EN, aprendendo muito com Pedro de Freitas Branco e no contacto direto com os músicos. Nesse mesmo ano de 1948 desloca-se pela primeira vez ao estrangeiro, como bolseiro do Instituto de Alta Cultura, para frequentar o Curso Internacional de Direção de Orquestra em Veneza, sob a orientação de Herman Scherchen. Em 1954-55 foi convidado por Ino Savini para desempenhar as funções de maestro assistente da Orquestra Sinfónica do Conservatório de Música do Porto. Entretanto, em 1955, Luís de Freitas Branco, seu grande mestre, sofre um ataque cardíaco e morre a 27 de novembro. Este acontecimento seria um choque e desgosto profundo para Joly Braga Santos.
Em 1956 conhece Maria José Falcão Trigoso em Lisboa. Apaixonam-se e casam-se em janeiro de 1957. Em abril desse mesmo ano é-lhe concedida uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, partindo para Roma em junho e estudando no Conservatório com Giulio Mortari e Godofredo Petrassi. Esteve também no estúdio experimental de Gravesano, com António Votto. Continua ainda as aulas particulares de direção com Scherchen, em Lugano – Suiça, e realiza um grande investimento de aprendizagem ouvindo muitos concertos e lendo partituras. Em outubro de 1958 nasce a sua primeira filha, Maria da Piedade, no Porto, onde Joly voltaria como maestro da Orquestra Sinfónica, viajando de seguida novamente para Itália onde, com Jorge Peixinho que entretanto chegara, tem oportunidade de conhecer novas estéticas e personalidades da vanguarda musical, entre as quais Luigi Nono, Bruno Maderna e Luciano Berio.
Em maio de 1959 estreia, com grande sucesso, a ópera Mérope, no Teatro Nacional de São Carlos, e no ano seguinte o Concerto para Viola, sob a sua direção. Em 1961, antes de regressar definitivamente a Portugal, dirige a Orquestra Scarlatti, de Nápoles, para a RAI. Obtém um lugar modesto como maestro assistente de captação na Emissora Nacional, que lhe permitirá ter o tempo necessário para compor. Em agosto de 1961, já em Portugal, nasce a sua segunda filha, Leonor.
A partir de 1960 é notório o enriquecimento dos seus recursos harmónicos e técnicos, sendo visível em Três Esboços Sinfónicos (1962), que venceria o Prémio Donemus, e na Sinfonietta (1963), na qual se nota uma grande evolução do seu estilo. Em 1963 morre o maestro Pedro de Freitas Branco, o grande difusor da música orquestral de Joly e, em 1964, é estreado o Requiem, em sua memória. Dezasseis anos depois da estreia da última, escrevia a sua 5.ª Sinfonia Virtus Lusitaniae, encomendada pelo Estado Português para a comemoração do 40º aniversário da Revolução Nacional, e que viria a ser laureada no Prémio Internacional de Composição da UNESCO, em 1969. Em 1970 é estreada a sua ópera Trilogia das Barcas, provavelmente a sua obra de maior dimensão, encomendada pelo XIV Festival Gulbenkian de Música, em 1971 a cantata cénica D. Garcia e em 1972 estreia a sua 6.ª Sinfonia, que viria a ser a última.
Foi professor de Análise e Técnicas de Composição no Conservatório Nacional onde, com Jorge Peixinho e João de Freitas Branco, integrou entusiasticamente a “Comissão Orientadora” para a reforma da instituição, entre 1972 e 1974, e foi responsável pela reformulação da disciplina de Educação Musical. Entretanto, depois do 25 de abril de 1974, uma alteração na lei dificultou a acumulação com o trabalho que tinha na rádio (agora RDP, Rádio Difusão Portuguesa) e é forçado a abandonar o lugar de professor no Conservatório. Foi um período difícil em termos financeiros aos quais se juntaram ainda alguns problemas de saúde, uma vez que a vista lhe começava a falhar. Em 1982 retomou o lugar de professor no CN, que viria a ocupar até ao dia da sua morte.
As suas últimas obras são maioritariamente vocais e de câmara ou para orquestra de pequena dimensão. Staccato Brilhante, sua última obra orquestral, foi estreado no concerto inaugural da Nova Filarmonia Portuguesa, a 22 de maio de 1988, e composta a pedido do seu amigo Álvaro Cassuto. Nessa altura, a Câmara Municipal de Lisboa tinha-lhe encomendado uma ópera a ser estreada na “Lisboa Capital Europeia da Cultura 94”, obra que não chegará a compor. Em junho de 1988 escreve a sua última obra Improviso, para clarinete e piano, dedicada a António Saiote. No dia 18 de julho sofre uma embolia cerebral fulminante e morre, aos 64 anos, em plena pujança criativa.
Professores de naipe: